sábado, 13 de outubro de 2012

Sucesso



Responsabilidade. De consumir, de ser, de tornar-se, de produzir, sozinho.
Quando o sucesso vem, orgulho, felicidade, até exibição, e a sensação de que “eu consegui” sozinho!
Quando ele demora de chegar, ou não há nem sinal de que virá, tristeza, frustração, auto-estima (que auto-estima?), revolta, impossibilidades, de ser, de tornar-se, de consumir, de produzir, sozinho...
Crianças sozinhas porque não tem pais, ou estes a maltratam... que passam a viver em lugares onde mal tem o seu próprio nome...
Pessoas na rua, abandonadas a própria sorte, deixando o resto à mercê do azar de encontrá-las...
Consumo,sobrevivência, violência, enquanto padrão de relação
Ninguém pode ajudar porque todo mundo está pagando a 7a ou 23a parcela daquele bem que não podia deixar de ter... Ou esperando a próxima liquidação, ou a próxima data comemorativa (que, por algum motivo, sempre coincidem...) para comprar aquele tão sensacional item que eu não tinha, mas precisava tanto!
Ninguém nunca terá tudo, mas isso termina nos dando a impressão que que ainda não temos nada...
Bens não são para serem possuídos. Para termos bens, temos esquecido de fazer o bem...
É tão mais fácil falar do diferente “carente” que está precisando de alguma coisa... A mesma facilidade não existe em considerarmo-nos parte dessa situação.
Ainda tem alguém que acredita que consumir mais é sinal de desenvolvimento? A não ser desenvolvimento do lixo, da miséria humana, da violência...
Mudar, fazer o bem, não é fazer pelo outro, mas fazer por si, em si, na própria vida...
Talvez por isso seja difícil, porque nós também estamos carentes...
Não de uma TV, pois essa pode ser parcelada em 24x (com só um pouquinho de juros...). Mas o afeto parcelado machuca, as possibilidades parceladas não vingam, e não poder colocar no "facebook" que se está triste, desempregado, ô meu deus! Que lugar resta então para isto?
Mas é assim! As coisas são assim! Se alguém com pouca escolaridade conseguiu ser presidente, e eu não consegui é porque não me esforcei o suficiente. Ou melhor, se ele não conseguiu, não se esforçou o suficiente. Quando eu não consigo, a culpa é do governo, da crise europeia, das pessoas que ainda não descobriram como sou bom. Quando o outro não consegue, é simplesmente um fracassado, preguiçoso.
E quando eu consigo? Ah! eu sou o máximo! E preciso mostrar isso pra todos, por isso meu celular tem que ser do último modelo, meu carro tem que ser o novo "wxpower", as roupas tem que ser da moda, e meu apartamento tem que ser em "alphaville"... (ou os seus genéricos, que na ausência desses, também servem...)
O problema é que o complemento do não conseguir sozinho, quando isso não se transforma em câncer ou em depressão, é que a culpa é do governo, dos corruptos, dos empresários que exploram, e eu sou só um pobre coitado, que nada posso fazer nesse mundo caótico. Afinal, estamos sozinhos.
E nada se faz, porque é assim mesmo (ou nós somos assim mesmo...). "Eu sempre faço o máximo que posso, os outros é que não fazem nada. Eu sou sempre tão honesto, tão prestativo, os outros é que são corruptos e só pensam em si. Eu já estou tão cansado..."
Estamos cansados, porque num mundo com 7 bilhões de pessoas, estamos sós. Somos responsáveis sozinhos pelo nosso destino, apesar de nosso destino ser totalmente cortado pelos interesses de “desenvolvimento” e riqueza individuais.
Não quero ter sucesso num lugar em que falta a outros bens primários, nem que meu diferencial seja me destacar porque os outros tem menos que eu...
Sucesso é a possibilidade de ser aquilo que se é. Já nasci com o meu diferencial, só preciso ter a possibilidade de expressá-lo, que nos é tirado quando temos que nos adequar a formula do sucesso, ao emprego que dá dinheiro, ou a tantas outras "necessidades" que nos fizeram sentir...
Quando deixarmos de achar que cada um é inteiramente responsável apenas por si mesmo, e entendemos que nós mesmos inclui todos aqueles que compartilham de um mesmo tempo e um mesmo espaço, ai sim, a solidão terá menos espaço, e não precisaremos correr tanto atrás de destaque, pois todos já o teremos.

Março, 2012

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