sábado, 13 de outubro de 2012

Corrupção


Ausência.
De si. Do outro.
Do outro em si.
De si no outro.
Do semelhante transformado em estranho.
Não por não ser igual, mas por não ter igual.
Não ter mãe, pai, paz.
Não ter dentes, pentes, ou lar.
Não me diferencio dos que não tem.
Eu mesma sou um poço de ausências.
Me diferencio dos que não tem para dar.
Não me conformo, não os entendo. Não os aceito.
Me causam incômodo, dor, descrença.
Chego a quase não acreditar nos meus sonhos.
Chego a quase esquecer-me que o que tenho pode ser doado.
Chego a quase acreditar que eles sempre vencem no final.
Tantas incongruências, tantas injustiças
Tantos atos em benefício próprio
Não diria nem que em malefício alheio,
Eles parecem estar cegos a qualquer coisa que não seja sua.
O que se é, se não se é nada para o outro?
O que estamos fazendo da vida?
O que estamos deixando que façam com as nossas vidas?
Por que se permite tanta corrupção?
É por sermos todos, em algum grau, corruptos?
É por não mais crermos na justiça?
Mas por que "não mais creríamos"?
Quando foi que acreditamos?
Quando deixamos de acreditar?
Quem nos convenceu de que não vale a pena lutar?
Por que alguns acreditam que não têm poder?
Por que outros acham que o poder é todo seu?
A corrupção não é algo em si mesmo.
É a ausência de.
É a ausência do outro.
E a supremacia do mim.
É a ignorância.
É a ganância.
Até quando?
14 de janeiro de 2008

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