domingo, 14 de outubro de 2012

A festa

Quero música
Quero comidinhas e doces
Quero cores
Quero amigos
Amigos-família
e minha família-amiga
Quero uma roda
Quero histórias
Quero lembranças
Quero memórias
Quero lágrimas
Estas que sempre tive
Que sempre me lavaram
E retrouxeram meu sorriso
Quero abraços
Ao meu redor

Não quero um lugar fora
para guardar meu corpo
Quero um lugar dentro de cada um
onde continuarei existindo

Depois de virar pó,
Quero ser água
E assim,
continuar navegando
Pelos caminhos que já fui
pelos caminhos que ainda

Sobre a morte e o viver

Se você morresse hoje,
que sentimento teria?


"De tanto tentar sorrir, chorei
De não saber pra onde ia, fiquei
ou fui
e não soube voltar
e não pude continuar"

"Vivi tudo o que pude
Fiz tudo o que foi possível
Chorei, brinquei, dancei, amei, trabalhei, dormi, estudei, conheci, viajei, realizei, nadei, pulei, comi, partilhei, briguei, superei, cansei, empreguicei, as vezes desisti, cantei mesmo sem saber a melodia, dancei inventando ritmos, sorri, sorri, sorri, mesmo quando quase não havia motivos para isto..."

"Morrer?
Sentimento?
O que é isso?"

Se a pessoa que você mais ama morresse hoje,
que sentimento você teria?

Sofrimento? Saudade?
Indignação? Celebração?

E agora?
E os agoras não vividos no passado e que não terão futuro?
E eu?

A morte nos diz mais sobre nós
e sobre a vida
Do que sobre ela mesma

14 de outubro de 2012

sábado, 13 de outubro de 2012

Permitir (se) conhecer



Estar psicóloga. Estar disponível para ser com o outro. Para conhecer o diferente. Para compreender quem é, como vive, o que sente, o que deseja. Permitir-se desconstruir paradigmas, compreender novas lógicas de funcionar, de viver, de trabalhar, de relacionar-se, de morrer.  Sentir o belo diferente, o tempo que transcorre em outro tempo, sentir que a nossa diversidade, a potencialidade pulsante do tornar-se, de ser fluido, de poder-ser,  é o que nos faz similares. Deixar morrer qualquer noção predefinida do que é ser humano, para permitir-se conhecer o outro integralmente. (...)


Para continuar a ler: http://consultoriaesse.com.br/site/?artigo=permitir-se-conhecer

OKHALA ONOKHALIHANIWA



Provérbio Macua: 
"VIVER É AJUDARMOS-NOS UNS AOS OUTROS A VIVER"
"No mundo moderno, me parece que o maior equívoco em que acreditamos, nossa maior fonte de sofrimento, é a ilusão do "eu". Somos levados a acreditar que há um "eu" indefinível que devemos entender e respeitar. Passamos a vida acreditando que o nosso objetivo é descobrir esse "eu" - quando, na verdade, a real jornada me parece ser a de nos inventar. É a crença nesse "eu" que nos mantem isolados e amedrontados, e nos faz incorporar rótulos que, no fundo, nunca parecem servir. (...) E é essa noção de "eu" que faz com que Este Aqui não se permita amar Aquele Ali, e que faz com que M não seja feliz com L. Não nascemos nós mesmos. Nós nos tornamos nós mesmos. Para mim essa é a perfeição do teatro como forma de expressão: aqui há muitos eus, tanto no palco quanto na plateia. No teatro podemos entender o quanto somos fluidos como pessoas, e entender que o tempo - outra mentira em que acreditamos - é fluido. O agora, o depois e o futuro são na verdade a mesma coisa. Somos muitos e o que somos é o que fomos e o que seremos. (...) cada um de nós, no mundo todo, em todas as línguas, faz as mesmas perguntas, procura a mesma verdade, busca a mesma beleza."

Daniel MacIvor, dramaturgo canadense

Amor em Conceito



Já ouvi muitas teorias sobre o amor...
Algumas me pareceram piegas, outras irreais, outras bonitas...
Algumas, ainda, considerei que representavam o que era o amor para mim...
Com algumas delas sonhei, desejei que assim acontecessem...
E então você apareceu.
E então, nos encontramos.
E então, nossas vidas passaram a ser compartilhadas...
E então, me vejo aprendendo, a cada dia, o que é o amor...
O que é amar...
Aprendi que amar não é uma teoria
E que, quando comparado a modelos
nunca é inteiro
Pois neste caso, sempre falta ou sobra algo
Não sei se saberia escrever sobre uma teoria do amor
Mas sei que sinto o que é amar você


13 de outubro de 2012

Entre a vontade e a história



Futuro pensado
Futuro possível
Futuro incerto
Quando o futuro pensado é posto em dúvida
por um futuro incerto, baseado pelo sentimento presente
o que fazer?
Quando o sentimento presente parece ser fugaz,
incerto, impossível, mas presente, o que fazer?

Julho 2008

Liberdade


Ser livre não é fazer tudo o que se quer,

mas ter a capacidade de fazer escolhas.

13 de outubro de 2012
"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo." 
Clarice Lispector

Espécie



Ele nasceu de uma espécie, mas aqueles que o rodeavam o tratavam como
se ele fosse outra coisa. Talvez porque nem eles mesmos se lembrassem
que, um dia, foram uma espécie (e inevitavelmente voltariam a
sê-lo)... Ele foi crescendo e tudo ao seu redor o fazia crer que ele
era uma outra coisa: ele pertencia a uma espécie que não envelhece,
que não sofre, que não tem defeitos, que não precisa de ninguém. E
assim ele foi vivendo. E foi acreditando em todas essas verdades que
ele via, lia, ouvia. Que lhe diziam, que lhe vendiam, que lhe sugavam,
que lhe cegavam. Que ele sen... Não, ele não as sentia. O que ele
sentia era não saber de onde vem o leite que ele toma todas as manhãs,
porque nunca viu uma vaca. O que ele sentia era a ausência de sentir.
Um vazio de não saber. Sentia suas limitações e suas dores, mas as
sentia só. E elas ficavam sós, porque se nem ele as conhecia, como
poderia acompanhá-las?  Ele não sabia o que sentia. Não compreendia o
que lhe acontecia. Ele sentia seu corpo não respondendo como fazia
outrora. Sua avó morreu e seu primo foi seqüestrado por causa de um
tênis. Ele queria uma verdade que explicasse porque as pessoas vivem e
porque existem pessoas que não têm tênis. Mas não a encontrou, porque
nunca aprendeu a procurá-la. Resolveu esperar. Afinal, sempre aparece
uma verdade mais brilhante e completa, e mesmo as verdades comprovadas
cientificamente são substituídas por outras mais verdadeiras e mais
científicas. Elas não chegaram. Não tinha um anúncio ou uma modelo que
pudesse acompanhar a sua solidão. As verdades que apareceram tinham
até mais brilho, mas não lhe davam o que ele queria. Não as encontrou
porque as verdades embaladas que lhes foram vendidas ao longo da sua
vida, as verdades prontas, são para os que nada buscam, para os que
nem o seu desejo é próprio. Ele podia não saber exatamente o quê, mas
estava procurando. E descobriu que nunca encontrará, porque a verdade
não é algo que se busque, mas o próprio ato de buscar. A si, aos
outros, à vida.
E pela primeira vez, sentiu-se ser. Humano.

14 de janeiro de 2008

Corrupção


Ausência.
De si. Do outro.
Do outro em si.
De si no outro.
Do semelhante transformado em estranho.
Não por não ser igual, mas por não ter igual.
Não ter mãe, pai, paz.
Não ter dentes, pentes, ou lar.
Não me diferencio dos que não tem.
Eu mesma sou um poço de ausências.
Me diferencio dos que não tem para dar.
Não me conformo, não os entendo. Não os aceito.
Me causam incômodo, dor, descrença.
Chego a quase não acreditar nos meus sonhos.
Chego a quase esquecer-me que o que tenho pode ser doado.
Chego a quase acreditar que eles sempre vencem no final.
Tantas incongruências, tantas injustiças
Tantos atos em benefício próprio
Não diria nem que em malefício alheio,
Eles parecem estar cegos a qualquer coisa que não seja sua.
O que se é, se não se é nada para o outro?
O que estamos fazendo da vida?
O que estamos deixando que façam com as nossas vidas?
Por que se permite tanta corrupção?
É por sermos todos, em algum grau, corruptos?
É por não mais crermos na justiça?
Mas por que "não mais creríamos"?
Quando foi que acreditamos?
Quando deixamos de acreditar?
Quem nos convenceu de que não vale a pena lutar?
Por que alguns acreditam que não têm poder?
Por que outros acham que o poder é todo seu?
A corrupção não é algo em si mesmo.
É a ausência de.
É a ausência do outro.
E a supremacia do mim.
É a ignorância.
É a ganância.
Até quando?
14 de janeiro de 2008

O mundo em meu corpo


Tenho apenas um corpo
e o sentimento de todo mundo.
Vejo, sinto, percebo.
Ajo.
Às vezes planejo, às vezes sonho,
sempre sinto.
Às vezes nada faço.
De tanto ver, às vezes queria cegar.
De tanto pensar, me pergunto por quê.
Para quê. Para quem.
Pra mim.
Para meu pedaço de mim que mora nos outros.
Para o mundo que está em meu corpo.

14 de janeiro de 2008

Só é seu aquilo que você doa



Algumas das pessoas mais importantes em minha vida já pensaram em se matar. Eu não pensei em consolidar esta idéia, de fato, mas questionei por muitas vezes qual o sentido da existência e, não tendo encontrado uma resposta, me perguntei: para quê viver? 

Pra que chorar, sorrir, viver, perder, lutar, se tudo vira pó? É comum interpretarmos situações inexplicáveis (e dolorosas) da vida como uma profunda injustiça do universo. Às inexplicáveis e boas geralmente não se sucede nenhum questionamento. 

Pois é nestes que sempre consistiram as minhas mais recorrentes interrogações: por que minha família é tão boa para mim, por que conquistei um amor tão verdadeiro, por que posso trabalhar no que gosto, por que já fiz viagens tão boas, por que tenho comida e posso escolher o quê, onde e como come-la, por que visto as roupas que gosto e quero vestir, por que tenho amigos tão verdadeiros e especiais, por que consigo conquistar as coisas a que realmente me proponho, e por que nem todas as pessoas são assim. 

Vem como resposta a algumas destas: porque eu busquei, enfrentei meus medos e consegui. Outras continuam sem resposta. Outras foram por acaso, se é que realmente não há uma lógica por trás de tudo. Tudo bem, você pode me dizer que as sociedades se formaram assim, e ai, o sistema político dominante tal e coisa, e o resultado disso são pessoas morrendo de fome. De comida e de desejos. De pão e de verdades. 

E eu respondo: ok. Mas ainda assim, por que eu pertenço à parte correspondente às pessoas que possuem, coisas e verdades? Apesar de não possuir todas as coisas, e as verdades sofrerem constantes provações, eu as tenho e elas me têm. E sou feliz com isso. Com o que me falta. É como uma criança, que ao viajar de carro com os pais pergunta: "pai, falta muito?" 

É o que falta que me faz andar. É o que falta aos outros que me dá a direção de onde ir. Me dá sentido. Responde às minhas perguntas. Se tenho, é porque tenho a dar. 

25 de janeiro de 2008

Bem feito

Quantas vezes você deixou de fazer o bem?
Fazer o mal intencionalmente, poucos de nós o fazem.
Mas deixar de fazer o bem, quantas vezes?

O meu rosto de lágrimas



Um aperto
Aqui
Uma saudade
Alguma peça que estava fora do lugar
e depois do perfeito encaixe
volta a se irregularizar
um lado cheio
alguns enchidos
e secos...
enchidos
e secos...
o lado cheio também molha os secos
mas eles voltam a secar
por quê será?
a não resposta me faz pensar
em coisas que já ouvi falar
em medos que aqui não deviam estar
mas que chegam
e ficam
e secam
e voltam a molhar
o meu rosto
de lágrimas
24 de julho de 2010

Sucesso



Responsabilidade. De consumir, de ser, de tornar-se, de produzir, sozinho.
Quando o sucesso vem, orgulho, felicidade, até exibição, e a sensação de que “eu consegui” sozinho!
Quando ele demora de chegar, ou não há nem sinal de que virá, tristeza, frustração, auto-estima (que auto-estima?), revolta, impossibilidades, de ser, de tornar-se, de consumir, de produzir, sozinho...
Crianças sozinhas porque não tem pais, ou estes a maltratam... que passam a viver em lugares onde mal tem o seu próprio nome...
Pessoas na rua, abandonadas a própria sorte, deixando o resto à mercê do azar de encontrá-las...
Consumo,sobrevivência, violência, enquanto padrão de relação
Ninguém pode ajudar porque todo mundo está pagando a 7a ou 23a parcela daquele bem que não podia deixar de ter... Ou esperando a próxima liquidação, ou a próxima data comemorativa (que, por algum motivo, sempre coincidem...) para comprar aquele tão sensacional item que eu não tinha, mas precisava tanto!
Ninguém nunca terá tudo, mas isso termina nos dando a impressão que que ainda não temos nada...
Bens não são para serem possuídos. Para termos bens, temos esquecido de fazer o bem...
É tão mais fácil falar do diferente “carente” que está precisando de alguma coisa... A mesma facilidade não existe em considerarmo-nos parte dessa situação.
Ainda tem alguém que acredita que consumir mais é sinal de desenvolvimento? A não ser desenvolvimento do lixo, da miséria humana, da violência...
Mudar, fazer o bem, não é fazer pelo outro, mas fazer por si, em si, na própria vida...
Talvez por isso seja difícil, porque nós também estamos carentes...
Não de uma TV, pois essa pode ser parcelada em 24x (com só um pouquinho de juros...). Mas o afeto parcelado machuca, as possibilidades parceladas não vingam, e não poder colocar no "facebook" que se está triste, desempregado, ô meu deus! Que lugar resta então para isto?
Mas é assim! As coisas são assim! Se alguém com pouca escolaridade conseguiu ser presidente, e eu não consegui é porque não me esforcei o suficiente. Ou melhor, se ele não conseguiu, não se esforçou o suficiente. Quando eu não consigo, a culpa é do governo, da crise europeia, das pessoas que ainda não descobriram como sou bom. Quando o outro não consegue, é simplesmente um fracassado, preguiçoso.
E quando eu consigo? Ah! eu sou o máximo! E preciso mostrar isso pra todos, por isso meu celular tem que ser do último modelo, meu carro tem que ser o novo "wxpower", as roupas tem que ser da moda, e meu apartamento tem que ser em "alphaville"... (ou os seus genéricos, que na ausência desses, também servem...)
O problema é que o complemento do não conseguir sozinho, quando isso não se transforma em câncer ou em depressão, é que a culpa é do governo, dos corruptos, dos empresários que exploram, e eu sou só um pobre coitado, que nada posso fazer nesse mundo caótico. Afinal, estamos sozinhos.
E nada se faz, porque é assim mesmo (ou nós somos assim mesmo...). "Eu sempre faço o máximo que posso, os outros é que não fazem nada. Eu sou sempre tão honesto, tão prestativo, os outros é que são corruptos e só pensam em si. Eu já estou tão cansado..."
Estamos cansados, porque num mundo com 7 bilhões de pessoas, estamos sós. Somos responsáveis sozinhos pelo nosso destino, apesar de nosso destino ser totalmente cortado pelos interesses de “desenvolvimento” e riqueza individuais.
Não quero ter sucesso num lugar em que falta a outros bens primários, nem que meu diferencial seja me destacar porque os outros tem menos que eu...
Sucesso é a possibilidade de ser aquilo que se é. Já nasci com o meu diferencial, só preciso ter a possibilidade de expressá-lo, que nos é tirado quando temos que nos adequar a formula do sucesso, ao emprego que dá dinheiro, ou a tantas outras "necessidades" que nos fizeram sentir...
Quando deixarmos de achar que cada um é inteiramente responsável apenas por si mesmo, e entendemos que nós mesmos inclui todos aqueles que compartilham de um mesmo tempo e um mesmo espaço, ai sim, a solidão terá menos espaço, e não precisaremos correr tanto atrás de destaque, pois todos já o teremos.

Março, 2012

Tete



Sorrisos Largos
como Embondeiros

Olhos que refletem
o brilho das estrelas
que aqui cintilam mais

Céu que empresta
seu mais intenso tom de azul
para fazer parte dessa vida
de capulanas tão coloridas

Sol forte
intenso
caloroso

Que parece perguntar:
até quando você resiste?

Sorrisos largos
e olhares que revelam
o quanto resistem
o quanto insistem
em manter o colorido da vida

Com força a enfrentar
Aquilo que lhes falta
e aquilo que lhes tiram
Aquilo que lhes dão
e aquilo que pensam que estão a lhes ajudar

Porque sabem que na verdade não é preciso
para trabalhar, perder a sombra do embondeiro
E que podem continuar a escrever a sua história

Parecem seguir sempre a sabedoria do embondeiro
Que tem e dá vida mesmo nas condições mais precárias
Que usa de toda a sua força e
de tudo o que é feito
Para alimentar a fome, a sede e a esperança do seu povo

Serumanidade



Humanos
sentem
sofrem
desejam

Por desejos que sentem,
muitas vezes sofrem
ou fazem sofrer

Bens
Posses
Poder

Por que não, querer bem
Dar possibilidades
Reconhecer o poder que existe em cada ser?

Pelos lugares que andei
Pelos corações que toquei
e fui tocada
Pelos sorrisos que se abriram
Pelas lágrimas que caíram
Por onde existi

Conheci pessoas a quem nada faltava
Tendo pouco e tendo muito
Encontrei pessoas que doavam tudo o que tinham
Tendo pouco e tendo muito
Conheci pessoas a quem tudo faltava
Tendo pouco e tendo muito

Em diferentes lugares
Em diferentes histórias
Em diferentes contextos
Em diferentes vidas
na minha vida

Encontrei simplicidade na riqueza
Encontrei riqueza na simplicidade

Sinto que não são os bens que possuímos
que nos dão poder
Senão o quanto podemos existir
junto àqueles a quem queremos bem

Na ausência disto
Encontrei dor
Encontrei falta
Encontrei egoísmo
Encontrei diversas formas de buscar
Ser
Sem ser
Sem outro

Na presença disto
A possibilidade de existir
Com
Pelo

Amor
Partilha

Que espécie de vida é esta
que precisa da morte de outras
para viver?

Vidas que sugam
Vidas que exploram
Vidas que pela ganância de ter
Deixam tantos não serem

Ser reconhecido
No sorriso
Na lágrima
No passo adiante
No passo para trás
Na dificuldade de ir
No desafio de ficar

Poder
Partilhar
Momentos
Experiências
Vidas

E assim
Existir

Por que querer ter tudo para si
quando se pode TER tudo
quando podem SER todos
pelo simples fato de EXISTIR?

12 de maio de 2012

ANI VERSA RIO



Nos versos desse ano, rio
alegre
encantada com o que há de belo
em nascer
em existir
em renascer

Serei
para trás ficou o que eu seria
e hoje, sou

Mas como um rio,
deixo que meus anos tragam novos versos
e levem antigos

Assim,
sou
e não sou

Sou cada sorriso,
cada carinho
cada palavra em verso
daqueles que amo
daqueles que me amam

Também sou cada lágrima
cada suspiro
cada certeza duvidosa
e cada incerteza corajosa

O não ser
O descobrir
é meu maior mérito,
e meu maior risco

Só sei que ao longo desses aniversários
Fui muitas vezes o que não sabia ser
Olho para trás e vejo o que sou
Olho para dentro e sinto quem sou
Miro adiante
e vejo que esse rio ainda tem muito por onde andar

Leticia Chaves Monteiro
13 de setembro de 2012

Ciclos



Nascer
Crescer
Morrer
Viver

Para nascer,
ser
Para morrer,

viver
Para viver,
crescer

Para Ser,
inteira
Para estar,
presença
Para crescer,
transformar

A si
Em si
A vida
A morte

Vir
Ir
Ser

Aqui


O sol morre
Para que venha a noite
escura ou estrelada
silenciosa ou em tempestade
mas seja qual for a sua profundidade
desaparece
ao primeiro raio deste mesmo sol
que agora renasce

14 de setembro de 2012

Diversidade, Humanidade e Amor


Amar a diversidade humana
quando um exemplar desta espécie
contraria todos os seus princípios
ou ao menos um deles
mas não menos importante

É aceitar a nossa própria limitação
A nossa própria impotência
diante da possibilidade de escolha do outro
É aceitar a nossa própria humanidade
A nossa própria fraqueza
E, por mais contraditório que possa parecer,
é quando conseguimos nos tornar mais fortes
Mais serenos em relação ao mundo
e a nós mesmos
E assim, descobrimos a nossa própria grandiosidade
Na humildade
No respeito ao outro
E acima de tudo
no respeito a nós mesmos

18/09/12

Chuva


nuvem condensa
gota
cai

peito aperta
lágrima
vai

percorrendo o rosto
lembrando o gosto
do caminho
que agora existe em memória

e a chuva lava
o caminho que agora pisas
o destino que não sabes se desejas
pelas escolhas de outrora
pelas escolhas de agora

O dia



    Uma rua.
    Um poste.
    Grãos de areia.
    Carros estacionados, transeuntes seguindo seus caminhos. A gravata às 7 da manhã indica para onde ele está indo. A sacola de pão nas mãos enrugadas faz-nos saber que ele tem para onde voltar. Pessoas cuidando de si. Muitos rostos, nenhum bom dia.
    Sinaleira. Impaciência.
    A sinfonia das buzinas, motores, gritos. Dois carros parados. Uma batida? Não, a falta de encontro. Eram mãe e filha. Cada uma no seu carro. Tentavam dizer uma a outra o que iriam fazer naquele dia. A distância que separava as duas fê-las gritar. Mas de tão próximas, não pareciam que tinham batido? Enfim...
    Uma árvore.
    Uma rua sem carros.
    O canto dos pássaros.
    O desabrochar das flores.
    Um vendaval.
    Levou tudo.
    Alguém de pés descalços e olhar duvidoso.
    Deixou apenas medo.
    Não que este também tenha durado muito. Não que este tenha sido acompanhado de susto. Como veio, se foi. Assim como o som dos pássaros, logo emudecido pelas buzinas.
    No meio dos arranha-céus de concreto, quem se lembra do canto dos pássaros? No meio do corre-corre de nossas vidas, quem se lembra dos que correm pela vida? 


08 de janeiro de 2008

Leticia = Laetitia = alegria


 
Meu nome é uma das minhas primeiras definições do que sou. Gosto do meu nome. Não apenas por ser a palavra que meus pais escolheram para me chamar, mas especialmente pelo seu significado. Alegria de viver, de ser, de descobrir, de estar, neste mundo, com os outros. O prazer da descoberta, da conquista, me fascinam. Olhar o mundo e as pessoas com olhos de criança, surpreendendo-me sempre com coisas novas, mas ao mesmo tempo reconhecendo aquilo que já vi outrora. Se eu fosse um animal seria um pássaro, livre, que busca sempre alçar novos voos e mais distantes. Se eu fosse uma planta seria uma árvore, daquelas bem antigas, grandes, com troncos largos. Gosto da serenidade que elas me transmitem. Gosto da sensação de que tantas coisas e pessoas já passaram por ali, tantas plantas, folhas e frutos já nasceram e se foram, tantos já se abrigaram em sua sombra. A sensação de que vendavais podem levar algumas de suas folhas, até alguns galhos, mas que as suas raízes a mantém firme no chão. Ser livre e ser firme. 

Sinto que o cuidado é uma das minhas grandes características. Assim sou com as pessoas que encontro, com as coisas que faço e com a profissão que escolhi. Sinto-me muito abençoada pelas pessoas com quem compartilhei e compartilho a minha vida, desde a minha família, aos amigos que fiz, ao amor que vivo e até os outros que já vivi, até as outras pessoas com as quais tive algum tipo de convivência, pelas inúmeras possibilidades de aprendizado e realização ao longo da minha vida. Desde a adolescência, no auge dos meus questionamentos existenciais, me questionava porque algumas pessoas nasciam com tanto, outras com tão pouco. E não falo de bens materiais, mas de possibilidade de existir. A resposta que consegui encontrar e me dar, é de que se eu tive e tenho possibilidades de me desenvolver, podia com isso agir de modo a que outras pessoas também tivessem esta experiência. Isto é o que dá sentido a minha vida. 

Tenho interesses múltiplos, dança, arte, culinária, viagens, línguas, culturas, pessoas... Tudo o que envolve as pessoas, suas possibilidades e impossibilidades, me interessa, desde Gandhi, grandes construções como as pirâmides, até seu lado obscuro e violento.
Tudo o que faço, faço porque acredito. Faço por escolha. Confio na vida e me sinto parte dela, e com isso sei que algumas coisas do que planejei acontecerão, mas principalmente, que outras que eu nem esperava vão se apresentar e que só precisam do meu "sim" para que aconteçam. E aconteçam bem.

Esta sou eu neste momento.

13/01/2012